sábado, 8 de maio de 2021

HOMILIA DO 6° DOMINGO DA PÁSCOA


Sexto Domingo da Páscoa – Domingo do Amor.
NÃO HÁ MAIOR AMOR QUE DÁ A VIDA PELOS AMIGOS
A mensagem da Palavra de Deus neste sexto domingo da Páscoa é o amor mútuo, que já foi dito e explicitado desde o capítulo 13 do Evangelho de São João (versículos 34.35). Aqui no capítulo 15 retoma a temática, nos versículos 09 a 17. O amor mútuo que há de ter os discípulos não é uma filantropia, mas está baseado no exemplo de Jesus Cristo: que se amem como eu vos tenho amado. Precisamente por este modo é que antes chamou também a este preceito de “mandamento novo”.
Como exemplo que clarifica este seu amor, põe uma prova humana: dar a vida pelos amigos. Não é que Cristo restrinja a universalidade de sua morte somente a alguns, mas utiliza a comparação usual, humana. Lembremos da primeira leitura que a graça do Espírito Santo também foi dada aos pagãos, ou seja, a salvação chega para todos em Jesus Cristo. Ao falar de “amigos”, no encadeamento semita, leva a chamar seus apóstolos de amigos. Os servos não sabem o que fazem seus senhores. No Antigo Testamento, tinha um aspecto de servidão. Os amigos conhecem suas intimidades. E ele lhe revelou o grande segredo e mensagem do Pai: O evangelho, as intimidades de Deus. Mas a verdadeira amizade exige obras. Assim Ele diz: “sois meus amigos se fazeis o que vos mando” (v. 14).
Como amigos de Cristo são também prediletos. E isto evoca a eleição que faz deles para o apostolado. A finalidade desta eleição é para que “ides”. O sentido é: a seus assuntos, a seus negócios, seguir seu caminho; é a missão do apóstolo; não se pode por término geográfico a sua missão: “deis muitos frutos” de apostolado, como pede o contexto. É a vocação da santidade antes já dita.
“E vosso fruto permaneça”, quer dizer, o fruto de seu apostolado que seja uma eficácia permanente onde jogarem a semente. E outra vez a oração como meio eficaz do apostolado. O apóstolo tem na oração um recurso de êxito, mas tem também a obrigação de usá-la como meio normal do fruto de seu apostolado. A seção termina com uma exposição chocante: “O que vos mando: que vos ameis uns aos outros”. Aqui a expressão é mais forte ainda quando a Palavra de Deus emprega o verbo “agapaó” (amar), ou seja, o amor capaz de dá a vida, como dizia na segunda leitura: “não amemos só de palavras”.
Pe. Raimundo José
Pároco de São João XXIII

HOMILIA DO 5° DOMINGO DA PÁSCOA

PERMANECER UNIDO A JESUS – 5º. Domingo da páscoa Ano B

 

A liturgia do 5º Domingo da Páscoa convida-nos a refletir sobre a nossa união a Cristo; e diz-nos que só unidos a Cristo temos acesso à vida verdadeira.

A primeira leitura diz-nos que o cristão é membro de um corpo – o Corpo de Cristo. Ninguém vive a fé isolado, é sempre na Igreja, comunidade de salvação que nos sentimos acolhidos e permanecemos unidos a Jesus quando somos irmãos e irmãs uns dos outros, e entre nós tem espaça para a fraternidade, a convivência harmoniosa, a alegria.

A segunda leitura define o ser cristão como “acreditar em Jesus” e “amar-nos uns aos outros como Ele nos amou”. São esses os “frutos” que Deus espera de todos aqueles que estão unidos a Cristo, a “verdadeira videira”. Se praticarmos as obras do amor, temos a certeza de que estamos unidos a Cristo e que a vida de Cristo circula em nós.

O Evangelho apresenta Jesus como “a verdadeira videira” que dá os frutos bons que Deus espera. Esta imagem da videira é muito conhecida pela religião dos judeus, pois, os profetas antigos comparavam Israel com uma videira. Por isso o termo “videira verdadeira”. Convida os discípulos a permanecerem unidos a Cristo, pois é d’Ele que eles recebem a vida plena. Mais na frente Jesus Cristo se define como videira e seus discípulos são os ramos. Nessa segunda afirmação não mais faz referência ao antigo Israel, mas ele mesmo se diz tronco da vida, videira. Entre o tronco e os seus ramos existem uma interdependência, algo muito íntimo. Eu sou a videira e vocês são os sarmentos, ou seja, os enxertos, que não faziam parte e agora fazem. “Vós fostes enxertados em Cristo”, diz Paulo.

De que modo permanecemos unidos a Jesus? Pela graça do batismo que nos enxertou nele e também vivendo a vida nova do Cristão pelos mandamentos. O texto do evangelho identifica dois tipos de discípulos. O primeiro é que aquele que não permanece unido a Jesus e não produz fruto, e a este o Pai (agricultor) corta, joga fora. O segundo é aquele que permanece unido a Jesus, e a este o Pai poda para dá muitos mais frutos. Tantos para um como para o outro vale a frase de Jesus: “sem mim não podem fazer nada”.

Para permanecermos unidos a Jesus é preciso uma mudança de mentalidade e de estrutura. Como não se vive a fé isolado, mas numa comunidade, Igreja, é necessário entender que a Igreja não é uma ilha de perfeitos, mas uma comunidade missionária e seguidora de Jesus.

Pe. Raimundo José



domingo, 28 de março de 2021

HOMILIA DO DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO


Domingo de ramos e da paixão do Senhor: lembra o projeto de Jesus.

Para muitos a Semana Santa se iguala a um "retiro". Param e querem pensar. Neste período muitos fortalecem a fé, o amor e a esperança. Pensa-se em Deus. Para outros é a oportunidade de responder: Qual o sentido da vida? Como explicar tanto sofrimento?  Onde buscar esperanças?

No período da Semana Santa, refletindo sobre a Paixão de Cristo, fazemos nascer, cada dia, em nossos corações a luz e uma nova esperança que na grande vigília pascal brilhará para todo o mundo.

Tempo de Retiro. A Semana Santa é tempo privilegiado para a comunidade e os cristãos, no silêncio e na oração, fazerem o encontro com o Senhor, conviverem mais intensamente com Ele, avaliarem as suas práticas em busca da vida plena.

Tempo de renovação. Nos dias da Semana Santa a graça e a bênção de Deus são mais palpáveis e mais intensamente sentidas na comunidade. A força pascal do Cristo invade o tempo, atinge o coração, ilumina as mentes, questiona as contradições humanas e provoca o novo.

Tempo de cultivar o novo. Durante oito dias, celebrando o mistério da morte e ressurreição do Senhor, aprendemos em que consiste a liturgia do Filho de Deus que disse: “o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir...” (Mt 20,28) e que afirmou: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos”. (Jo 15,13). Esse jeito de Jesus entender a vida como serviço, nós lembramos e celebramos na liturgia.

Três símbolos estão presentes na liturgia: os ramos, a procissão com ramos e a proclamação do Evangelho da Paixão.

 Na liturgia deste domingo, revivemos a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém para celebrar a sua Páscoa. Unidos aos seus sentimentos, mergulhamos no seu projeto de obediência ao Pai e de serviço à humanidade.  (Mc 11, 1- 10).

Aclamamos Jesus como Messias, o esperado das nações. Cremos que Ele vem realizar as promessas antigas e instaurar o Reino: Justiça para os pobres, participação na construção da sociedade solidária, convivência fraterna, paz entre os povos; diálogo entre as religiões e culturas e vida em abundância para todos.

A liturgia dos ramos não é uma repetição apenas da cena evangélica, mas sacramento da nossa fé na vitória do Cristo na história, marcada por tantos conflitos e desigualdades.

No Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, a Igreja entra no mistério do seu Senhor crucificado, sepultado e ressuscitado, o qual, ao entrar em Jerusalém, preanunciou a sua majestade.

Pe. Raimundo José. 

domingo, 21 de março de 2021

HOMILIA DO 5° DOMINGO DA QUARESMA

HOMILIA DO V DOMINGO DA QUARESMA


A primeira leitura do 5º Domingo da Quaresma dá-nos conta da eterna preocupação de Deus com a realização plena do homem. Nessa linha, Deus propõe-se intervir no sentido de mudar o coração do homem, tornando-o apto para fazer as escolhas mais corretas. Só com um coração transformado, o homem será capaz de acolher as propostas de Deus e de conduzir a sua vida de acordo com esses valores que lhe asseguram a harmonia, a paz, a verdadeira felicidade. Ao homem pede-se, naturalmente, que acolha o dom de Deus, que se deixe transformar por Ele, que aceite o desafio de Deus para integrar a comunidade da nova Aliança. Integrar a comunidade da nova Aliança implica, no entanto, renunciar a caminhos de fechamento, de autossuficiência, de recusa, de indiferença face aos desafios e às propostas de Deus. Estamos dispostos, neste tempo de Quaresma, a acolher o dom de Deus e a deixar-nos transformar por Ele?

O projeto de uma nova Aliança entre Deus e o seu Povo concretiza-se em Jesus: Ele veio ao mundo para renovar os corações dos homens, oferecendo-lhes a vida de Deus. As outras duas leituras que nos são propostas neste 5º Domingo da Quaresma vão dizer-nos como é que Jesus concretizou este projeto.

Como é que chegamos a essa realidade do Homem Novo, de coração transformado? O Evangelho responde: é olhando para Jesus, aprendendo com Ele, seguindo-O no caminho do amor, acolhendo essa vida que Ele nos propõe. Jesus tem de ser o modelo, a referência, o exemplo de quem quer aceitar o desafio de Deus e viver na comunidade da nova Aliança. Na verdade, o que é que Jesus representa, para nós? Um pensador original, mas cujas ideias e perspectivas parecem desfasadas face às novas realidades do mundo? Ou é o Deus que veio ao encontro dos homens com um projeto de vida nova, capaz de dar um novo sentido à nossa vida e de nos encaminhar para a vida plena, para a felicidade sem fim?

O caminho que Jesus aponta aos homens é o caminho do amor radical, do dom da vida, da entrega total a Deus e aos irmãos. Este caminho pode parecer, por vezes, um caminho de fracasso, de cruz; pode ser um caminho que nos coloca à margem desses valores que o mundo admira e consagra; pode parecer um caminho de perdedores e de fracos, reservado a quem não tem a coragem de se impor, de vencer a todo o custo, de conquistar o mundo... No entanto, Jesus garante-nos: a vida plena e definitiva nasce do dom de si mesmo, do serviço simples e humilde prestado aos irmãos, da disponibilidade para nos esquecermos de nós próprios e para irmos ao encontro das necessidades dos outros, da capacidade para nos solidarizarmos com os irmãos que sofrem, da coragem com que enfrentamos tudo aquilo que gera sofrimento e morte. Estamos dispostos a seguir a proposta de Jesus?

Jesus rejeita absolutamente o caminho da autossuficiência, do fechamento em si próprio, do egoísmo estéril, dos valores efémeros. Na lógica de Deus, trata-se de um caminho de perdedores, que produz vidas vazias e sem sentido, sofrimento e frustração, medo e desilusão. Quem vive exclusivamente para si próprio, quem se preocupa apenas em defender os seus interesses e perspectivas, quem se apega excessivamente a uma realização pessoal cumprida em circuitos fechados, "compra" uma existência infecunda e que não vale a pena ser vivida. Perde a oportunidade de chegar ao Homem Novo, à realização plena, à vida verdadeira. Não passa do grão de trigo que morre para nascer.

É através da comunidade dos discípulos que os homens "veem Jesus", descobrem o seu projeto, encontram esse caminho de amor e de doação que conduz à vida nova do Homem Novo, à salvação.

Pe. Raimundo José 

HOMILIA DO 4° DOMINGO DA QUARESMA

Meditação do 4° Domingo da Quaresma

JESUS E NICODEMOS

Nicodemos, um homem de cargo importante e de muita influência. No entanto um homem inquieto em seu coração. Ele já tinha ouvido falar de Jesus de Nazaré, sobre os seus milagres e sobre os seus ensinamentos. Até decidiu ir ter com ele de noite, às escondidas. Cada um de nós carrega em si a pergunta de Nicodemos: para que eu vivo neste mundo, o que me dá o meu cristianismo? Dará sentido à minha vida? Posso me apoiar sobre isso em todas as situações da vida? Sou capaz de vencer tudo pela força da minha fé?
Cada um de nós carrega dentro de si os problemas e as perguntas de Nicodemos. Será que nós também vamos com isso a Jesus Cristo?
Nicodemos começa a sua conversa pelas gentilezas. Mas isto não era necessário, pois Cristo lê seus pensamentos, penetra o seu coração. E sem ser perguntado, Cristo lhe dá em resposta: “Em verdade em verdade te digo, quem não renascer da água e do espírito não poderá entrar no Reino de Deus”. Não basta que te chamem de bom católico, que frequentes a Igreja, que leve uma vida digna. Tudo isso não basta para entrar no Reino de Deus. Apesar disso tudo, isso não te satisfaz. Tu desejas encontrar um Deus vivo, inserido profundamente em tua vida. Gostaria de conversar com Ele de amigo para amigo. Tu queres entrar no Reino de Deus, encontrar o amor sincero, sem hipocrisia. Queres encontrar a realidade sobre a qual podes apoiar tudo. Tu tens desejo, anseias pelo Reino de Deus.
E eis que vem a resposta: “Se não nascer de novo, não entrarás no Reino de Deus”. É preciso nascer da água e do Espírito Santo. Nicodemos não conseguiu compreender isso. “És doutor em Israel e ignoras estas coisas”? – replicou-lhe Jesus.
Tu és cristão, conheces à doutrina, tens ouvido centenas de sermões na Igreja e não sabes isso? Como pode um homem renascer? Mas Cristo repete: “Quem não renascer, não poderá entrar no Reino de Deus”. Como se pode fazer isto? “A carne é carne, o Espírito é Espírito. Não é da carne que surgira esta realidade denominada por Cristo”.
O que provém da carne? A fraqueza, a doença, a morte, a inclinação para o mal. O que nasceu da carne, é carne. Se na tua vida permaneces nos limites das possibilidades materiais, jamais sairás de tua crise. Não há em ti nenhuma força que te levaria ao encontro com Deus vivo. De que modo podemos nascer do Espírito? O próprio Jesus Cristo dá-nos a resposta: “Assim Deus amou o mundo que deu o Seu Filho Primogênito”. Deus é amor. Ele nos ama, ele ama cada um de nós. Cada um tem o seu lugar no coração de Deus. Cada um é abraçado pelo seu amor.
Deus tem seu eterno plano pelo qual Ele envolve a cada um de nós. Deus preparou para cada um de nós um dom, um presente singular: a vida eterna. E Deus quer oferecer esse dom a cada um e nós gratuitamente. Há, no entanto, um obstáculo que não nos permite recebê-lo. Esta barreira está em nós. Ela se chama pecado. Queremos ser autossuficientes. Por isso, achamos que não temos necessidade de Deus. Queremos viver para nós mesmos e nos fechar sem si. Queremos lutar por nós, exaltar-nos, reduzir tudo a nós mesmos.
O nosso pecado, contudo, não foi capaz de mudar o amor de Deus. Deus continua nos amando. Deus nos amou de tal modo que entregou seu Filho. Era necessário que o Filho do Homem fosse elevado, como a serpente foi erguida por Moises no deserto. Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho. Deus amou o mundo de tal modo, que lhe deu seu Filho Unigênito, para que todo o que crê nele tenha a vida eterna.
Os nossos pecados não têm poder de impedir o amor de Deus. Quanto maior pecado era, tanto maior amor se revelou. Fomos nós quem o pregou na cruz, foram os nossos pecados. E Ele agonizava na cruz orando: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
Quem pode pensar que seus pecados são maiores do que este amor? Ninguém pode duvidar nem mesmo o maior pecador. E eis a cruz fixada em nossa frente. Passam os séculos, rola a história, tudo muda e tudo passa. Tudo acaba em desengano. Somente uma única coisa perdura: a palavra de amor proclamada no alto da cruz, e ela perdurará até o fim. Nada pode derrubar a cruz.
Qual é a notícia que supera os nossos anseios, que liberta e traz a alegria? A notícia que Deus é Amor. Ele deu seu Filho, para que todo o que crê n’Ele, não pereça, mas tenha a vida eterna. Portanto, deixemo-nos de nos defender. Deixemos de resolver sozinhos nossos próprios problemas. Não encontraremos a solução para a nossa vida na riqueza, neste ou naquele regime político, nem no progresso da medicina e ciência, tão pouco em prazeres e luxúria. Ninguém nos libertará de nós mesmos, do nosso pecado, mas somente Ele e só Ele. Ele está à espera de cada um de nós, está à porta e bate.
Este é o tempo favorável para que possas receber a Jesus no teu coração. Somos chamados para receber a Cristo como nosso pessoal Salvador. Somos chamados a ter fé no Deus vivo, em Jesus Cristo, que veio para nos salvar, libertar do pecado e para nos dar a vida. Tudo isso foi prometido e está em nossa frente, é nos dado.
É preciso acreditar em Cristo. Dar-lhe a nossa vida. E justamente isto significa: nascer de novo. Eu renasço quando tenho experimentado que Cristo é o meu Salvador e aceito a sua Palavra.
Isto não se pode se realizar pela nossa própria força. Deus nos manda o seu Espírito. “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. E sob a ação deste Espírito podemos dizer: creio, Jesus é o Senhor, o Salvador. Clamemos, então: Vinde ó Espírito Santo abre meus olhos e os meus ouvidos, permiti-me receber a Cristo, permite-me nascer de novo.

sábado, 6 de março de 2021

HOMILIA DO 3° DOMINGO DA QUARESMA


3º. Domingo da Quaresma - Cristo, o novo templo

Irmãos e irmãs, em nossa caminhada rumo a páscoa, chegamos a um grande oásis que refresca a secura da vida. Este oásis é o Domingo, dia de escutar a Palavra de Deus, receber a eucaristia, reunir a comunidade. O esquema litúrgico da quaresma é mistagogicamente oportuno para irmos com Jesus ao cume de sua vida: paixão, morte e ressureição. Aos poucos esta caminhada vai se tornando mais leve pois estamos nos aproximando das grandes festas da vida nova, a páscoa. Iniciamos longe, lá no deserto (primeiro domingo) na força do Espírito Santo vencendo o demônio. Na montanha (segundo domingo) experimentamos a antecipação da gloriosa ressurreição que anima nossos corações. Hoje o sinal litúrgico-interpretativo da mensagem que a Palavra de Deus nos oferece é o templo. Cristo é o novo lugar de encontrar Deus, novo templo; profeta renovador do culto; nova lei;

Na primeira leitura ouvimos as palavras sagradas da lei antiga, de Moisés, onde o autor sagrado vai colocando o positivo da lei e as consequências de sua não observância. Esta lei Deus deu ao seu povo para que garantisse o mínimo ético comum a comunidade dos judeus e a religião. Assim, a lei de Moisés, possui uma função religiosa, mas acima de tudo social, garantindo os direitos mínimos como a propriedade, o respeito à vida, à justiça. Destes preceitos um dos mais exigentes era a frequência ao culto no templo do Senhor. A observância dizia quem podia ou não podia entrar: os impuros, os pecadores públicos, a mulheres estéreis, os leprosos. Lei antiga combinava templo antigo, culto conservador.  Este cenário da situação do templo era acompanhado de uma concepção teológica muito enraizava na religião judaica: Deus não estar em qualquer lugar, Ele habita no templo. Assim, todos os piedosos deveriam ir ao templo para prestar culto e oferecer sacríficos. Foi se gerando em torno do templo um comércio liderado por ricos de Jerusalém e apoiado pelos sacerdotes da religião do templo.

Cristo vai a Jerusalém para a festa da festa da páscoa e lá encontra o comercio no templo. A partir dessa cena decorre uma série de fatos que depois passam a serem vistos com uma nova interpretação na vida cristã e colocando a centralidade na pessoa de Jesus. São estas atitudes de Cristo: expulsa os vendilhões do templo, manda destruir o templo antigo, se proclama novo templo e novo culto. Cristo é o lugar de encontrar Deus, ou seja, Ele no mistério de sua morte e glorificação se tornou o único meio de aproximar os homens de Deus. Entre estes e o próprio Deus não existe mais nenhuma barreira, pois foi destruída pela sua vitória. Ele se proclamando novo templo e novo culto se faz também nova lei e não anula a lei antiga, mas a plenifica. A partir disso tem sentido o que Paulo disse na Carta aos Coríntios (segunda leitura): Cristo crucificado é sinal de salvação para todos.

Irmãs e irmãs, agradeçamos a Deus Pai que nos deu seu Filho como caminho seguro para chegarmos a Ele.  Cristo é Novo templo e Nova Lei que nos deu a vida por meio de sua vida. Deus abençoe a todos na caminhada rumo a páscoa.  

Pe. Raimundo José

sábado, 20 de fevereiro de 2021

HOMILIA DO 1° DOMINGO DA QUARESMA


VENCER A TENTAÇÃO NA FORÇA DO ESPÍRITO E DA PALAVRA

Queridos irmãos e irmãs começamos nossa caminhada quaresmal, e neste primeiro domingo quero apresentar o nosso programa para esta quaresma. A própria liturgia da Igreja nos fornece o esquema para nossa renovação e assim podermos chegar às alegrias da celebração da Páscoa. 
Primeiro domingo - No deserto Jesus vence a tentação; 
Segundo domingo - Jesus mostra sua glória; 
Terceiro domingo - Jesus Cristo é o novo templo; 
Quarto domingo - Jesus se encontra com Nicodemos; 
Quinto domingo - O grão de trigo que morre na terra; 
Voltemos à liturgia de hoje. A mensagem central que tiramos da palavra proclamada nesta liturgia é que Cristo vence a tentação do diabo na força do Espírito Santo e pela Palavra de Deus. Esta também é a proposta para todos nós, vencermos as ciladas do inimigo pelas armas que o próprio Jesus usou. Na primeira leitura do livro do Gênesis narra que Deus criou o homem para a vida e a felicidade, mas o egoísmo da criatura, que quer ser Deus, leva a cair na maior frustação possível que foi perder a graça de Deus pela proposta do inimigo. A criatura deixa de ouvir a voz de Deus e passa a ouvir outras vozes dissonantes. 
Esta realidade da humanidade separada de Deus foi superada pela ação do novo Adão, Jesus Cristo, que reconciliou a criatura com Deus Pai de novo, isto São Paulo deixa bem claro na segunda leitura. Nosso Senhor Jesus rejeita as propostas fáceis do diabo e escolhe a Palavra de Deus como arma contra as investidas do inimigo. Tentação do prazer (pedras virarem pão) - o homem vive da Palavra e não só dos instintos; Tentação do poder (tirar a vida, se jogar) – não atentar contra a vida, na qual só Deus é Senhor; Tentação do ter – (tudo será teu) – Deus é nosso tudo, “adorar somente a Deus”. Caros fiéis com que armas temos lutado contra as tentações? O evangelho diz que na força do Espírito o Senhor foi levado ao deserto e foi tentado. 
Pelo mesmo Espírito que Ele venceu o diabo. Outra marca para a vitória foi a Palavra de Deus, que a cada tentação o Senhor rebatia com a própria escritura. Que o Senhor Jesus Cristo, vencedor do mal, nos acompanhe nesta caminhada quaresmal.

Pe. Raimundo José

sábado, 13 de fevereiro de 2021

HOMILIA DO 6º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 


HOMILIA DO 6º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Caríssimos irmãos e irmãs, reunidos na celebração de nossa páscoa semanal. Estamos vivenciando o sexto domingo do tempo comum. O Espírito Santo que inspirou as escrituras nos oferece também sua assistência divina para acolhermos a Palavra que foi proclamada e abre o nosso coração para acolhermos a mensagem que o próprio Deus desejou transmitir. A mensagem central da liturgia da Palavra hoje é a afirmação de Jesus Cristo, “eu quero, fica curado”. Deus quer curar-nos de nossas enfermidades, do pecado e nos inserir na comunidade, na convivência harmoniosa.

Na primeira leitura fica muito claro pela lei do Levítico que o leproso é alguém impuro. A lepra causava dois tipos de mal, a exclusão da comunidade religiosa e da convivência social. Assim, o leproso era considerado alguém de nível menor, impuro, pecador. Enquanto na leitura o assunto da impureza diz respeito á lepra, no salmo a compreensão de que Deus nos liberta de nossos pecados se a Ele nós confessarmos nossas fraquezas.

No início do ministério público de Jesus os seus atos messiânicos manifestam o Reino de Deus que chegou, e para o evangelista Marcos isso é bem enfático pela quantidade de milagres e libertações que Jesus realiza. Sempre encontramos o milagre que ele faz e sua insistente recomendação de que o beneficiado não conte a ninguém o que aconteceu. O segredo messiânico de Jesus era para ir de encontro a uma mentalidade muito difundida na palestina sobre um messias triunfalista e político. Jesus liberta as pessoas do mal, mas pede segredo para que sua missão não fosse logo de início confundida com a mentalidade presente. Na cura do homem leproso vemos bem claramente o que significa a lei da impureza que era ordenada pela religião dos judeus e até o tipo de sacrifício que deveria se oferecer se alguém ficasse curado de lepra. Muito parecido com o que foi dito na primeira leitura.

Jesus permite que o homem leproso “chegue perto” dele. Isso não podia acontecer, pois, quem tocasse em um impuro também ficava impuro.  Cheio de compaixão Jesus estendeu a mão e tocou nele. O terceiro ato de Jesus é um desejo que liberta pelo poder de sua palavra, “Eu quero: fica curado”! Observemos, irmãos e irmãs, estes gestos de Jesus: proximidade, toque, desejo. O que a Palavra sugere? O que nos diz os gestos de Jesus? Para o tempo de pandemia que estamos tristemente vivendo esta palavra nos diz muito.

Como imitadores de Cristo, como dizia São Paulo na leitura segunda, sejamos também sujeitos que se fazem próximos dos outros. Que o Senhor nos fortaleça para termos a mesma coragem de querer e libertar as pessoas do isolamento e do pecado.                                              

 

Em Cristo,

Pe. Raimundo José

sábado, 6 de fevereiro de 2021

HOMILIA DO 5° DOMINGO DO TEMPO COMUM




Caríssimos irmãos e irmãs a liturgia da Palavra do tempo comum é uma sequência que a cada domingo vamos crescendo na escuta da Palavra de Deus. Estamos no ano B, por isso que o evangelho que escutamos continua a narrativa dos domingos anteriores. Somente para efeito de lembrar aos irmãos e irmãs: o primeiro domingo do tempo comum celebra o batismo de Jesus; o segundo domingo ouvimos sobre o seguimento dos primeiros discípulos; no terceiro Jesus Cristo inaugura o Reino e convida os homens ao seu seguimento; no quarto (domingo passado) refletimos sobre a manifestação do Reino de Deus através de Jesus Cristo que veio libertar o homem do mal. Hoje, neste quinto domingo do tempo comum, a mesma temática continua. Jesus Cristo opera milagres, não apenas como atos isolados, mas chamando o ser humano ao seu projeto de libertação que Ele veio realizar. 
Na primeira leitura ouvimos um clássico da literatura bíblica, o livro de Jó. Qual sentido tem a vida do homem? O que significa o sofrimento mesmo quando atinge o justo e piedoso? É esse drama que Jó se encontra. Ouvimos Jó relatar que seu sofrimento é maior que o do soldado (condenado à luta e a guerra), do escravo (que suspira pela sombra), e do assalariado (que espera o salário). Mesmo no sofrimento Jó faz uma prece se recomendando a Deus e sabe que só Dele vem a libertação. 
O “fio da meada” da leitura com o evangelho é a realidade que se encontra o ser humano a quem Deus envia seu Filho e este comunica e realiza o Reino libertando os doentes,  os endemoniados da ação do mal. Assim, precisamente, do evangelho que ouvimos pode-se articular a reflexão em dois pontos: A cura da sogra de Pedro e as inúmeras curas dos doentes daquela cidade (Cafarnaum). Jesus ao sair da sinagoga se dirige para a casa de Pedro e encontra a sogra dele doente. São Marcos não conta detalhes espalhafatosos em sua narrativa, mas emprega três ações importantes.  Jesus aproximou-se; pegou pela mão e a levantou; ela começou a servir. É Deus quem toma a iniciativa e liberta o ser humano e este libertado se coloca a serviço dos irmãos. A segunda parte ou segundo milagre é a cura de muitos doentes e atormentados em frente a casa de Pedro. O evangelista Marcos, discípulo de Pedro, nos deixa este dado fazendo referência que a casa de Pedro significa a Igreja. É a Igreja, comunidade dos seguidores de Jesus Cristo, que continua o projeto de vida e de libertação que o divino mestre começou. Lembra o que São Paulo disse na segunda leitura de hoje: “ai de mim se não evangelizar”. 
Caríssimos irmãos e irmãs celebrando esta liturgia em honra do Senhor confiemos a Ele os nossos sofrimentos. Deixemos que Ele se aproxime, nos tome pela mão e levante-nos de nossas misérias e depois de experimentarmos sua proximidade nos coloquemos a serviço dos outros. Peçamos também a graça de que olhemos para a Igreja (casa de Pedro) como continuadora da missão de Jesus Cristo.

Fraternalmente,
Pe. Raimundo José R. da Silva
Pároco da Paróquia São João XXIII 

sábado, 30 de janeiro de 2021

HOMILIA DO 4º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B/ 2021

 


JESUS ENSINA E LIBERTA - 4º Domingo do Tempo Comum

31 de Janeiro de 2021

 

Amados irmãos e irmãs, estamos hoje reunidos para celebrar o dia do Senhor e neste quarto domingo do tempo comum, o Senhor nos convida a aderir ao projeto de libertação que Ele nos trouxe através de seu filho Jesus Cristo. Nos domingos anteriores ouvimos o convite da Palavra para sermos seguidores de Jesus Cristo e acolhermos o Reino que Ele trouxe para todos nós. Neste domingo, o quarto do tempo comum, temos a alegria de fazer parte do novo projeto de libertação que Deus Pai revelou através de seu filho Jesus Cristo e estamos felizes porque O Senhor nos convidou para estarmos aqui para ouvir a sua Palavra e participar do banquete da eucaristia.

Jesus Cristo inaugurou o seu messianismo libertando os homens das amarras do demônio como que testificando a sua Palavra. Em Jesus Cristo não apenas a Palavra é causa de espanto, mas os seus atos, que revelam a sua divindade. Assim, temos duas dimensões nesta liturgia: a Palavra de Jesus Cristo que causa espanto em seus interlocutores e a ação libertadora de Jesus Cristo, que liberta o homem possuído por um espírito impuro.  

Na primeira leitura de hoje, escutamos a promessa de Deus na qual será enviado depois de Moisés um profeta semelhante à ele, que iria transmitir ao povo a Palavra. Para os judeus o maior profeta que já existiu foi o próprio Moisés, pois ele deu a lei, assim, é um convite insistente para o povo da antiga aliança de acolher a Palavra de Moisés e a promessa de Deus de que irá enviar um profeta semelhante. No Salmo que cantamos também refletimos esta mensagem da acolhida da Palavra de Deus. 

Partindo do Evangelho para as outras leituras desta liturgia da Palavra, compreendemos que no início do Ministério público de Jesus, segundo o evangelista São Marcos, Ele inaugura o Reino e seus atos de Messias testificam a sua Palavra que tem poder e autoridade. Diante de seus primeiros discípulos na sinagoga de Cafarnaum, faz dois atos que formam o coração desta liturgia: o primeiro é que ele fala diferentemente dos doutores da lei e o segundo é que o milagre operado na vida do homem possuído pelo demônio confirma a sua Palavra poderosa. Essas duas ações do Cristo são respondidas com atitudes diferentes, por exemplo, as pessoas dizem “um ensinamento novo” [...] “que Palavra é esta? Um ensinamento novo dado com autoridade”. E da parte do demônio uma resistência: “Vieste para nos destruir”? Eu sei quem Tu és, Tu és o Santo de Deus”. Como é próprio do Evangelista Marcos guardar o segredo de que Jesus é o Messias, no início de seu ministério público, Cristo não permite que nem os discípulos, nem nenhum demônio, digam a sua identidade messiânica.  

A grande novidade que Jesus Cristo trouxe foi não apenas ler as escrituras, mas ele mesmo ser a novidade revelada a nós como Palavra definitiva de Deus. Os atos messiânicos de Jesus, neste caso a libertação de um possuído por um demônio, são a confirmação de que o messias veio para libertar os homens do mal. Esta acolhida da novidade que Jesus Cristo trouxe, funciona como um paradigma da pertença ao Reino e a este Reino deve ser submetido todos os valores terrenos, até mesmo os melhores como o matrimônio, lembrou o Apóstolo Paulo na segunda leitura de hoje.

Irmãos e irmãs, levemos em nossos corações desta liturgia duas considerações: reconhecer Jesus Cristo como profeta enviado do Pai e se fascinar por sua Palavra; Permitir que Jesus Cristo nos liberte do espírito do egoísmo e da autossuficiência.  

 

Pe. Raimundo José

Pároco/ Paróquia São João XXIII

 

segunda-feira, 11 de maio de 2020

HOMILIA DO 5° DOMINGO DA PÁSCOA

Seguir Jesus na comunidade Cristã - 10 de Maio de 2020

Caros irmãos e irmãs aqui presentes e você que nos acompanha pelas redes sociais, estamos celebrando hoje o quinto domingo da páscoa, o domingo do caminho. Jesus Cristo é o caminho que leva ao Pai e nosso seguimento a Ele se dá por meio da comunidade cristã. Nesta santa liturgia temos esta profunda relação entre os textos bíblicos proclamados na liturgia da palavra. Na primeira e segunda leitura dando ênfase ao tema da Igreja e no evangelho segundo São João (14, 1-12) o tema do caminho.

Nos Atos dos Apóstolos continuamos a escutar as características da comunidade cristã de Jerusalém. A comunidade é formada por homens e mulheres diferentes, os cristãos de origem grega e os cristãos de origem judaica. A comunidade cristã não é perfeita, é uma realidade onde se busca conviver. Outra característica é a função da autoridade. Recorrem aos apóstolos e estes decidem a situação por meio de um poder repartido, pedindo que eles mesmos escolham sete homens de boa fama para o serviço da caridade.  A comunidade é o lugar da Palavra. Por três vezes faz referencia a ministério da Palavra durante a leitura e é esta palavra que faz crescer a comunidade.

Na segunda leitura tirada da carta do apóstolo Pedro o tema em ênfase é a pedra angular, Jesus Cristo, que foi dada aos homens como pedra de salvação e que estes agora formam uma “raça eleita”, um novo povo. A Igreja é essa realidade nova que nasceu da fé em Jesus Cristo.

O tema da Igreja, comunidade de convocados, se liga perfeitamente ao evangelho que hoje ouvimos. Podemos subdividir o texto sagrado em quatro partes: a despedida de Jesus; Jesus como caminho ao Pai; a união entre o Pai e Jesus; os frutos da fé em Jesus.

Jesus começa consolando o coração dos discípulos e que estes não fiquem com o coração angustiado, pois, todos tem um lugar na casa do Pai. A ausência de Cristo não pode paralisar os discípulos, antes eles precisam ter fé em Jesus como já têm fé em Deus. A segunda parte do texto vem quando Tomé pergunta a Jesus para onde ele vai, e o Senhor responde não dizendo para onde vai, mas afirmando que ele é o caminho, a verdade e a vida. Caminho que leva ao Pai, verdade que liberta e a própria vida. O terceiro aspecto do evangelho é a intima união da vontade do Pai e do Filho, ao que Jesus responde para Filipe, “quem me viu, viu o Pai”. “Eu estou no Pai”. O versículo 12 apela que os que creem em Cristo podem fazer as obras que ele fez e obras ainda maiores. A fé em Jesus Cristo mesmo aparentemente ausente garante aos discípulos esta certeza.

Peçamos a Deus a graça de viver na comunidade cristã seguindo o caminho que leva ao Pai, Jesus Cristo, e nossa fé nele seja capaz de nos levar a praticarmos a principal obra realizada por ele que foi salvar vidas.

Padre Raimundo José Ribeiro da Silva
Pároco da Paróquia São João XXIII

HOMILIA DO 4° DOMINGO DA PÁSCOA

CRISTO, BOM PASTOR, DÁ A VIDA POR TODOS0 - 03 de Maio de 2020

Irmãos e irmãs o primeiro quadro do evangelho de João sobre Jesus é a definição do Cristo como Porta do rebanho. O segundo quadro ou imagem típica do Cristo é a definição de Cristo como o Bom Pastor. “Eu sou o Bom Pastor”. Ele se apresenta como “O Pastor”, o bom. Com isso quer dizer que Nele se encontra as condições eminentes de um pastor; é um pastor espiritual digno deste nome. E vai usar este “tema” para expressar os aspectos de sua obra de bom pastor.

O primeiro aspecto é que o Bom Pastor “dá a sua vida por suas ovelhas”. Se expressa aqui a solicitude do Bom Pastor, Cristo, apontado com elementos alegóricos, talvez inspirado em Davi, tipo de messias, que era pastor: que perseguia o leão que lhe havia roubado uma ovelha (1Sm 17, 34-36). Mas, frente ao bom pastor está o pastor assalariado, que não pode ter, naturalmente, esta estima pelo rebanho. E assim, ao ver o lobo, abandona o rebanho, pondo-se a salvo, e o lobo as arrebata e dispersa. Alguns padres como Agostinho, João Crisóstomo e vários autores pensaram que o pastor assalariado significava os fariseus e o lobo, que “arrebata e dispersa as ovelhas   significava o diabo. Frente a esses maus pastores, que fogem ante os perigos de seu rebanho, Cristo é para o rebanho o bom pastor, que de tal maneira vigia e apascenta, que chega a “dar sua vida em proveito de suas ovelhas”. O que aqui se diz, sapiencialmente, como condição de todo bom pastor, é um ensinamento e uma profecia de sua morte redentora.

O segundo aspecto de sua obra de bom pastor em o conhecimento que Ele tem de suas ovelhas, o mesmo que elas tem dele. E isso num duplo aspecto: as ovelhas de Israel e os gentios. “Eu sou o bom pastor, conheço minhas ovelhas e elas conhecem a mim, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai”. Entre Cristo e as ovelhas existe um conhecimento recíproco. Mas o conhecimento universal e sobrenatural de Cristo pelas ovelhas de seu rebanho está muito íntimo. Não é por um sinal externo, mas por algo mais íntimo, mais profundo e autêntico, baseado na semelhança de como o Pai e o Filho se conhecem, que não é somente um conhecimento intelectual, mas um conhecimento por sua vez intelectual e amoroso. As ovelhas amam o Cristo como Filho de Deus encarnado. No fundo de todo esse conhecimento amoroso existe uma predestinação, que ressalta imediatamente é a ternura com que Cristo conhece e ama. E são as ovelhas que conhecem sua voz e Ele vai adiante delas em sua vida e lhe chama por seu nome. Estas ovelhas são seus discípulos que sabem que Ele é o filho de Deus e assim lhe amam. E amando-o como tal lhe seguem: são seus discípulos.

O terceiro aspecto da obra do Cristo Bom Pastor é que tem que estender a sua solicitude a universalidade do rebanho. Por isso proclama com ânsia de verdadeiro bom pastor: “tenho outras ovelhas que não são desse redil, e a estas é preciso que as conduza e que escutem minha voz; e será um rebanho e um pastor”. A obra redentora do Filho chega a todos, ou seja, os pagãos.

Na primeira leitura o apóstolo Pedro, pastor da Igreja primitiva, apresenta o esquema para pertencer a este novo rebanho dos salvos por Cristo. São necessários três passos: converte-se; ser batizado; receber o Espírito. Na segunda leitura o mesmo apóstolo diz que “andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao pastor e guarda de vossas vidas”.

Hoje celebrando o 57º. Dia mundial de oração pelas vocações, o domingo do Bom Pastor, peçamos ao Senhor ressuscitado que sustente na fidelidade os pastores da Igreja e que Ele chame muitos jovens para as vocações específicas, especialmente, para o sacerdócio ministerial. 

Padre Raimundo José Ribeiro da Silva
Pároco da Paróquia São João XXIII