SOLENIDADE DA
SANTÍSSIMA TRINDADE
DEUS UNO E TRINO
O mistério de Deus
uno e trino foi ao longo da Igreja primitiva a grande questão que custou muito
à elaboração teológica cristã. A dificuldade da questão era se a definição de
Deus em três pessoas distintas iria contra o princípio da unidade de Deus. A grande
dificuldade da Igreja do século IV foi combater o pensamento judaizante do
monoteísmo presente na mentalidade do Antigo Testamento, nisto ocorreu diversas
heresias cristológicas as quais a Igreja combateu com a definição de sua fé
conforme aquilo que conhecemos hoje. As definições das verdades da fé foram
possíveis devido a presença de homens que dedicaram suas vidas na defesa da
ortodoxia cristã, os padres da Igreja.
Para “compreendermos”
bem a Santíssima Trindade é preciso partir da revelação que Deus faz de si
mesmo. A revelação é uma auto-revelação de Deus, que não perdendo nada de si
torna-se conhecido pelo homem. A iniciativa na obra da criação e na salvação é
de Deus. O Pai nunca age sozinho, Ele é perfeita comunhão com seu Filho e com o
Espírito Santo, mas nas missões que cada pessoa divina assume existe distinção.
Não podemos falar de diferenças, pois o Pai, o Filho e o Espírito Santo são da
mesma substância, logo não existem três deuses diferentes um do outro, mas um
só Deus em três pessoas distintas.
O grande perigo é ver
a ação da Trindade de forma dividida como se cada pessoa divina agisse
isoladamente, por exemplo: atribuir isoladamente a obra da criação ao Pai, a
obra da redenção ao Filho e a santificação ao Espírito Santo. Dizendo assim dá
a entender que houve um tempo do Pai, um tempo do Filho e um tempo do Espírito
Santo. Essa consideração era da heresia dos modalistas
que defendendo a monarquia do Pai dizia que Jesus e o Espírito Santo eram modos
de Deus se apresentar. Negava assim a divindade do Filho. A Igreja combate essa
heresia dizendo que tanto a obra da criação e da salvação é obra da Trindade.
Quanto à criação, só
o Pai cria, mas Ele cria tudo para o Filho por meio do Espírito Santo. Como nos
relata o livro do Gênesis “O Espírito de Deus pairava sobre as águas”. E
confirmado no prólogo do evangelho de São João: “no princípio o verbo estava
com Deus, e o verbo era Deus”. A obra da criação é do Pai, e não podemos
interpretar “façamos o homem á nossa imagem e semelhança” como se a criação
fosse obra também do Filho e do Espírito Santo. O plural aí empregado é o
plural de Deus. É Ele consigo mesmo e no
seu amor que nos cria.
A grandeza da
solenidade proposta pela santa liturgia de hoje não se coloca no entendimento
que podemos ter de Deus e de seu mistério, mas nos propõe a relação de comunhão
entre nós e Deus. Podemos aprender dessa santa liturgia que Deus é relação
perfeita e se revela para comunicar sua vida divina, isso está bem expresso na
primeira leitura e na segunda.
No santo Evangelho se
colocam duas ideias principais: a primeira é que Jesus revela o mistério de
Deus, e após sua ressureição, agora envolvido de glória, seus discípulos o
adoram, ou seja, reconhecem Nele sua divindade. Adorando o Filho eterno de
Deus, Jesus Cristo, também se adora o Pai e o Espírito Santo. O louvor devido a
uma das três pessoas divinas é devido a Deus em seu mistério. Na segunda parte
do evangelho, o envio missionário, Jesus envia os discípulos com uma dupla
função, ensinar e batizar. Ensinar a reconhecer Nele a revelação de Deus e
batizar no Pai, no Filho e no Espírito Santo para que os homens entrem em
comunhão de amor com o próprio Deus.
Irmãos e irmãs
dizendo assim que o mistério de Deus é um mistério de comunhão, chegamos a nos
perguntar: como vivo minha condição de Filho de Deus que recebi no Batismo?
Busco viver a comunhão com Deus? Como convivo com meus semelhantes para
manifestar a comunhão que tenho com Deus?
Ó
Deus eterno, muito mais que vos compreender desejo vos amar e ficar sempre convosco.
Ajuda-me a conviver com os outros para descobrir a maravilhosa dinâmica da
comunhão e da fraternidade, das quais vós mesmo, Deus eterno, és o autor.
Pe.
Raimundo José
Paróquia
São João XXIII
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