domingo, 27 de maio de 2018

HOMILIA DA SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE


SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE
DEUS UNO E TRINO

O mistério de Deus uno e trino foi ao longo da Igreja primitiva a grande questão que custou muito à elaboração teológica cristã. A dificuldade da questão era se a definição de Deus em três pessoas distintas iria contra o princípio da unidade de Deus. A grande dificuldade da Igreja do século IV foi combater o pensamento judaizante do monoteísmo presente na mentalidade do Antigo Testamento, nisto ocorreu diversas heresias cristológicas as quais a Igreja combateu com a definição de sua fé conforme aquilo que conhecemos hoje. As definições das verdades da fé foram possíveis devido a presença de homens que dedicaram suas vidas na defesa da ortodoxia cristã, os padres da Igreja.
Para “compreendermos” bem a Santíssima Trindade é preciso partir da revelação que Deus faz de si mesmo. A revelação é uma auto-revelação de Deus, que não perdendo nada de si torna-se conhecido pelo homem. A iniciativa na obra da criação e na salvação é de Deus. O Pai nunca age sozinho, Ele é perfeita comunhão com seu Filho e com o Espírito Santo, mas nas missões que cada pessoa divina assume existe distinção. Não podemos falar de diferenças, pois o Pai, o Filho e o Espírito Santo são da mesma substância, logo não existem três deuses diferentes um do outro, mas um só Deus em três pessoas distintas.
O grande perigo é ver a ação da Trindade de forma dividida como se cada pessoa divina agisse isoladamente, por exemplo: atribuir isoladamente a obra da criação ao Pai, a obra da redenção ao Filho e a santificação ao Espírito Santo. Dizendo assim dá a entender que houve um tempo do Pai, um tempo do Filho e um tempo do Espírito Santo. Essa consideração era da heresia dos modalistas que defendendo a monarquia do Pai dizia que Jesus e o Espírito Santo eram modos de Deus se apresentar. Negava assim a divindade do Filho. A Igreja combate essa heresia dizendo que tanto a obra da criação e da salvação é obra da Trindade.
Quanto à criação, só o Pai cria, mas Ele cria tudo para o Filho por meio do Espírito Santo. Como nos relata o livro do Gênesis “O Espírito de Deus pairava sobre as águas”. E confirmado no prólogo do evangelho de São João: “no princípio o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus”. A obra da criação é do Pai, e não podemos interpretar “façamos o homem á nossa imagem e semelhança” como se a criação fosse obra também do Filho e do Espírito Santo. O plural aí empregado é o plural de Deus. É  Ele consigo mesmo e no seu amor que nos cria. 
A grandeza da solenidade proposta pela santa liturgia de hoje não se coloca no entendimento que podemos ter de Deus e de seu mistério, mas nos propõe a relação de comunhão entre nós e Deus. Podemos aprender dessa santa liturgia que Deus é relação perfeita e se revela para comunicar sua vida divina, isso está bem expresso na primeira leitura e na segunda.
No santo Evangelho se colocam duas ideias principais: a primeira é que Jesus revela o mistério de Deus, e após sua ressureição, agora envolvido de glória, seus discípulos o adoram, ou seja, reconhecem Nele sua divindade. Adorando o Filho eterno de Deus, Jesus Cristo, também se adora o Pai e o Espírito Santo. O louvor devido a uma das três pessoas divinas é devido a Deus em seu mistério. Na segunda parte do evangelho, o envio missionário, Jesus envia os discípulos com uma dupla função, ensinar e batizar. Ensinar a reconhecer Nele a revelação de Deus e batizar no Pai, no Filho e no Espírito Santo para que os homens entrem em comunhão de amor com o próprio Deus.
Irmãos e irmãs dizendo assim que o mistério de Deus é um mistério de comunhão, chegamos a nos perguntar: como vivo minha condição de Filho de Deus que recebi no Batismo? Busco viver a comunhão com Deus? Como convivo com meus semelhantes para manifestar a comunhão que tenho com Deus?
Ó Deus eterno, muito mais que vos compreender desejo vos amar e ficar sempre convosco. Ajuda-me a conviver com os outros para descobrir a maravilhosa dinâmica da comunhão e da fraternidade, das quais vós mesmo, Deus eterno, és o autor.

Pe. Raimundo José
Paróquia São João XXIII

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