Domingo
de Ramos e da Paixão do Senhor
Irmãos e irmãs caríssimos hoje se
descortina diante de nós duas faces do mistério pascal de Cristo: a glória e a
cruz. Podemos dizer que a liturgia do domingo de Ramos é uma síntese antecipada
de todo o mistério que durante a semana santa vamos viver. É exultação, glória,
porque Jesus definitivamente assume o projeto de salvação da humanidade,
entrando triunfante em Jerusalém; é cruz e entrega porque esta sua postura
custou-lhe a vida e trouxe salvação para todos.
Na primeira leitura ouvimos uma parte
do terceiro cântico do servo sofredor do livro do Profeta Isaias. Este servo
sofredor se faz cumpridor da Palavra de Deus, mesmo que leve sua vida até as
últimas consequências. Este servo sofredor e obediente é o profeto exilado? É o
coletivo do povo de Deus que resiste ao cativeiro e guarda a esperança de
libertação? Não sabemos. O certo é que as primeiras comunidades cristãs
interpretaram a imagem do servo sofredor como sinal tipológico de Jesus Cristo.
Ele no mistério de sua paixão, morte e ressureição se mostra como o servo
humilde e obediente que não se deixa abater. No salmo também possui dois
movimentos. No início um grito de um desesperado, “meu Deus porque me
abandonaste”, mas ao fim da trama o salmista apela para a confiança em Deus que
lhe socorreu. Não é um salmo de um derrotado, mas de alguém sofredor e
confiante.
Na segunda leitura Paulo fala da
“Kenósis” (esvaziamento) do Filho de Deus que não se apega a sua divindade, mas
assume a nossa humanidade. O movimento da descida de Deus eleva a humanidade ao
que é eterno.
A narração da paixão que hoje ouvimos é
a versão de São Marcos. Este evangelista descreve um messias totalmente humano,
e isto é muito mais evidente na narrativa de sua traição por um amigo, sua
entrega, julgamento, paixão, morte na cruz. De todos os sinais que ouvimos um
sobressai. O silêncio de Jesus Cristo. A
violência, a gritaria, as acusações injustas, o escárnio, as mentiras, enfim o
peso do pecado, tudo recai sobre ele. O justo e santo assume silenciosamente a
violência e a rebeldia dos homens. De todo o processo injusto que condenou
Jesus a morte uma palavra não quer calar: Deus vence o mal por dentro e do mal
tira a vida. Ele não revida, não grita, não justifica, e assim, silenciosamente,
salva a humanidade.
Padre
Raimundo José
Pároco
de São João XXIII
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