Maria foi salva e redimida de um modo mais excelente (sublimori modo
redempta, LG, n. 51). Isso não significa que ela esteja distante do homem e de
seus problemas diários. Pelo fato de ser imaculada, não é um ser inalcançável,
mas é parte da humanidade, assim é, por graça, próxima de Deus e próxima da
humanidade. Confessar a fé na Imaculada Conceição de Maria permite que cada
homem se empenhe de forma mais profunda e generosa em alcançar o desígnio de
Deus sobre ele desde a eternidade. Para Domingos Barbosa da Silva Filho a
grandeza de Maria estar em ter sido ela uma mulher de fé e também enfrentado as
dificuldades do crer. Segundo ele:
Porque Mãe do Filho de Deus, somos
tentados a pensar que Maria não encontrou dificuldades em sua vida, que tudo
foi muito fácil para ela, que ela compreendia tudo com uma clareza meridiana;
ou, quem sabe, até mesmo que Maria seja uma espécie de semideusa ou um quinto
evangelho ao lado do Evangelho de Cristo. Nada mais estranho ao quanto nos
ensinam a Escritura e a Igreja na sua Tradição e no seu Magistério. O Concílio
Vaticano II nos ensina que Maria era uma filha de Adão que se tornou Mãe de
Jesus, que avançou em peregrinação de fé. Também ela conheceu a noite escura da
alma da qual falam os grandes místicos. A grandiosidade e luminosidade da vida
de Maria consistem em ter ela vivido plenamente o Evangelho de Cristo, na
simplicidade e na fadiga cotidiana de sua existência. Também para ela a fé foi
marcada pela prova, pela obscuridade e pelo sofrimento. (BARBOSA, 2013, p. 02).
O modo mais excelente que Maria foi
redimida (redenção preventiva) diferentemente dos comuns dos mortais, não
impede que cada homem tenha o mesmo fim e destino dela: a comunhão definitiva e
plena com Deus. A comunhão com Deus na vida de Maria foi de modo sublime porque
não foi atingida pelo pecado, na vida de cada redimido por Cristo (redenção
remediativa) essa graça original e a comunhão com Deus é sempre renovada pela
recepção dos sacramentos. A graça santificante que se recebe nos sacramentos da
Igreja é sempre renovação da vida divina
no homem e oportunidade de crescimento pessoal e eclesial. Celebrar hoje a fé na Imaculada Conceição de
Maria é testemunhar que a última palavra é de Deus e que por amor se revela aos
homens salvando-os.
A conclusão mais clara que nos deve
dar bons frutos é a de considerar Maria, mãe imaculada, como companheira
inseparável do nosso itinerário cristão, pois Maria só se entende em referência
a Cristo. Essa ligação fica assegurada sempre que tenhamos em conta o que ‘ a
devoção autêntica não consiste em sentimentalismo estéril e passageiro, ou em
vã credulidade, mas procede da fé verdadeira que nos leva a reconhecer a
excelência da Mãe de Deus e nos incita a um amor filial com a nossa Mãe e à
imitação das suas virtudes’ (GUERENO, 2000, p. 20.)
Segundo Carlos Ignácio González a atualidade desse
dogma para a Igreja se dá em dois pontos fundamentais: a entrega total à obra
de Cristo em favor dos homens; a graça de Maria, esperança da Igreja. A graça
singular na vida de Maria a tornou capaz de responder generosamente ao convite
de Deus para cooperar com a humanidade na obra da salvação. A concepção
imaculada de Maria nada mais é que sua preparação por parte da Trindade para
tornar possível sua resposta na anunciação. A generosidade do sim de Maria
corresponde a grandiosidade de sua vocação à santidade plenamente realizada
desde sua concepção pelos méritos de seu Filho e salvador, Jesus Cristo.
A graça singular da vida de Maria é para a Igreja
uma esperança. O que a Igreja contempla em Maria Imaculada é aquilo espera ser
realizado em si mesmo, que é sua vocação última de viver a comunhão para com
Deus. Considerando a continuidade da graça recebida por ela (preservada) e a
graça dado a cada homem (perdoado) é possível dizer que Maria é um sinal segura
de esperança. Essa posição é apresentada também por São João Paulo II na
encíclica Redemptoris Mater. Da mesma posição é Karl Rahner sobre o sentido
eclesial do dogma da Imaculada Conceição.
Quem souber amar generosamente e não se concentrar em seu egoísmo, terá
motivo de profunda alegria pelo fato de saber que na própria raça humana, caída
e pecadora, existe um ser que sempre foi totalmente puro e que preencheu o
ideal de Deus sobre o que o homem deve ser. Mais ainda mais que isso: a graça
original em Maria, sem intervenção nem mérito próprios, está dizendo que a
origem e o fim do homem não é o mal, mas a graça: é um desafio ao pessimismo de
quem vê no mal a raiz do humano e o supremo valor da existência. (KARL RAHNER
apud GONZÁLEZ, 1990, 282).
“Deus
revelou-se ao homem, comunicando lhe gradualmente seu próprio Mistério por meio
de ações e de palavra” (CIC 68). Como vimos, Deus se manifestou a humanidade
muitas vezes e de diversos modos. Na plenitude dos tempos manifestou-se de maneira
totalmente radical na pessoa de Jesus Cristo, nele a total revelação e
manifestação do desígnio salvífico de Deus Pai. Pois o que antes falava por
meio dos profetas agora nos revelou inteiramente, dando-nos o Tudo que é seu
Filho (Hb 1). “Com efeito, Deus enviou seu Filho, o Verbo eterno que ilumina
todos os homens para que habitasse entre os homens e lhes expusesse os segredos
de Deus (Jo 1, 1-18). Jesus Cristo, portanto, Verbo feito carne, enviado como
“homem aos homens” profere as palavras de Deus (Jo 3, 34) e consuma a obra
salvífica que o Pai lhe confiou (Jo 5,36; 17,4).
Deus em sua bondade
para realizar seu plano de revelação aos homens contou com a valiosa
participação de uma criatura singular, Maria, que para corresponder a tamanha
missão nunca teve em sua vida resquício de pecado em vista dos méritos de Jesus
Cristo foi salva de um modo mais sublime.
Maria foi Santa no corpo e no coração e assumindo as consequências de
sua fé arriscou com coração livre em dá seu sim a Deus e daí para frente no seu
coração silencioso se tornou a discípula primeira de seu próprio Filho e no
extremo do amor suportou a dor da cruz, o martírio de seu Filho no corpo foi
seu martírio no coração de Mãe. “Deus
juntou todas as águas e deu o nome de mar, reuniu todas as graças e deu o nome
de Maria” (São Luiz Grignon de Montfort).
Padre Raimundo José
Pároco da Paróquia de São João XXIII
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